quinta-feira, 16 de julho de 2009

FUNILÂNDIA EXISTE?

"A GERÊNCIA NÃO SUBSTITUI A PEDAGOGIA, MAS FAZ SOAR ALARMES SE ESTA FALHAR.O QUE HÁ DE ERRADO NISSO?"

Existe! Fica próximo de Belo Horizonte. Fomos lá visitar uma escola municipal. A primeira surpresa foi que o gramado e os jardins estavam impecáveis e o prédio, bem-cuidado. Bom sinal. Entrando na sala de aula da 1ª série, a surpresa foi ainda maior. Além dos cartazes de palhaços e bichos, as paredes estavam cobertas de gráficos e tabelas.
Perguntamos à queima-roupa a um aluno qual era sua missão nessa escola. A resposta já estava pronta: aprender a ler, a escrever e a fazer contas. Em seguida, foram argüidos outros alunos acerca do que lhes cabia fazer, dos problemas encontrados e das soluções contempladas. Estava tudo escrito nos cartazes colados nas paredes. Uma aluninha mostrou uma tabela com as presenças e ausências de cada um dos alunos e disse que uma das metas era reduzir as faltas de um ou dois alunos mais recalcitrantes. Um cartaz mostrava os pontos negativos: problemas de indisciplina e excesso de conversas paralelas. E assim se seguiu a visita, um aluno após outro completando o diagnóstico do que havia de certo e de errado na sua turma, e mais as medidas para consertar os problemas. O que quer que se diga acerca do que foi encontrado, fica claro que os alunos de 1ª série sabem ler os textos na parede e conseguem interpretar gráficos de barra. Estão todos mais do que alfabetizados. Não é pouca coisa em uma escola de um município de 3.500 habitantes, com IDH na média mineira.
No corredor estava um cartaz com as metas do professor de religião, enfatizando o ecumenismo e a tolerância. Também na educação física havia metas, ligadas à obtenção de uniformes e tênis. Havia metas para a limpeza da escola (que é feita pelos alunos) e para o uso das cestas de lixo. Passamos à cantina, que igualmente tinha cartazes sobre as metas a ser atingidas pelas merendeiras (sabor, limpeza etc.). Abaixo do nome de cada funcionário da cantina estava pregado um copinho de papel. Embaixo de tudo, três copinhos com canudinhos de refresco cortados em pedaços menores. Após cada refeição, os professores escolhem a cor dos canudinhos para colocar no copo da merendeira de turno: verde para bom serviço, amarelo para mais ou menos e vermelho para deficiente.
As professoras são premiadas pelo seu bom desempenho (faltas dos alunos, limpeza etc.). Como não há dinheiro, os prêmios são dados pelos comerciantes locais. Visitamos a aula de uma professora premiada com uma galinha, um livro e um serviço de manicure.
Na entrada da escola estão os gráficos que mostram seu desempenho acadêmico em comparação com o das outras (medido pelos testes do Estado). Funilândia supera bastante as médias do Estado e empata com a melhor escola da região. A meta para o próximo ano é dar mais um salto. Na secretaria há uma caixa de sugestões e reclamações. Dali têm saído muitas idéias implementadas pela diretora.
O que significa isso tudo, uma revolução gerencial? No fundo é isso mesmo. A escola adotou as técnicas de gerenciamento das melhores empresas, já aclimatadas para a educação. Ou seja, as técnicas mais bem-sucedidas para administrar empresas foram adaptadas para as escolas. A Fundação (www.fundacaopitagoras.com.br) implementou o plano na escola, em virtude de um dos sócios da empresa-mãe ser proprietário de uma fazenda de gado leiteiro no município (aliás, na América Latina, a única fazenda do ramo com ISO 9000).
O que dirão os puristas da pedagogia? Transformaram a escola em uma fábrica, com números medindo tudo? Mercantilizaram o ensino? Acho que não. As ferramentas gerenciais adotadas levam a escola a fazer o mesmo que as boas empresas fazem. Isto é, definir prioridades para direção, professores, alunos e funcionários. Depois, converter as prioridades em metas educativas concretas, decidir como ensinar (a pedagogia) e medir se foram atingidas as metas, avaliando assim o próprio desempenho. A gerência não substitui a pedagogia, mas faz soar alarmes se esta falhar. O que há de errado nisso? Se uma escola em um município diminuto consegue fazer isso, por que não outras mais aquinhoadas?
Claudio de Moura Castro é economista. (Veja, 12/11//2003).

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